RELÓGIO

sábado, 8 de setembro de 2012

Capítulo XIV - CHIQUINHO GERNANO E SUAS PALAVRAS - HOMEM DE UMA SÓ PALAVRA

Capítulo XIV
Chiquinho Germano e suas palavras


Homem de uma só Palavra

        Ao longo de uma carreira de quase 50 anos de vida pública, Chiquinho Germano conquistou o apoio total dos rodolfenses, se tornando a maior liderança de todos os tempos no município. Ele é um homem de uma só palavra, mesmo não sendo eloqüente em seus discursos, é coerente em suas atitudes. Para ele a palavra vale mais do que qualquer documento.

Entrevista ao Suplemento “Gazeta Rural”

            Francisco Germano Filho – Chiquinho Germano, natural de Luís Gomes - RN, nascido a 16 de abril de 1930, além de ser um importantíssimo político no município de Rodolfo Fernandes e região, é também um agropecuarista bem-sucedido.  Exerce essa atividade rural desde 1958, quando a convite da sua avó materna, dona Tereza Maria de Queiroz (16/06/1874 – 17/03/1971), viúva do coronel Martiniano José de Queiroz (16/07/1866 – 22/05/1943), foi auxiliá-la nas obrigações do campo, mas precisamente no Sítio Padre, à época encravado município de Iracema, atualmente no de Potiretama - CE, e Altos, município de Severiano Melo - RN. Seus pais, Francisco Germano da Silveira – Chico Germano e Jacinta Queiroz da Silveira, porém, com nove meses de nascido, foi adotado pela sua tia, Dona Maria Amélia de Queiroz, esta, irmã de dona Jacinta Queiroz, casada com o desembargador José Fernandes Vieira, filho de Marcelino Vieira da Costa.  Como proprietário rural, possui seis propriedades rurais, com mais de 700 hectares de cajueiro, São Rafael, em Rodolfo Fernandes, São Gabriel, em Potiretama - CE, Barreiros, em Iracema - CE, Carneiros, em Luís Gomes, Altos e Nova Descoberta, em Severiano Melo, são as fazendas onde Chiquinho Germano, dedica-se à atividade rural, por ele considerada em total decadência, conforme sua entrevista concedida ao suplemento Gazeta Rural, jornal Gazeta DO Oeste, do dia 29 de Julho de 1998 – Domingo, cujos entrevistadores fora os jornalistas: Joaquim Crispiniano Neto (Santo Antônio do Salto da 0nça -RN, 22 de fevereiro de 1956) e Francisco Costa.
            Em 1958, dona Terezinha, sua avó, o designou para administrar suas fazendas, e ele administrou - as com garra, honestidade e com muita determinação, passando a ser um grande criador de gado mestiço e cultiva plantação de caju, feijão e algodão. Até o ano de 1998, era considerado o maior criador de gado de nossa região, mas devido à grande seca daquele ano, teve que se desfazer de boa parte de seu rebanho bovino, vendendo a preço de banana de uma só vez mil cabeças de gado para um fazendeiro do Estado da Paraíba que as transportou em caminhões para o Estado do Maranhão. Essa venda se deu por causa da grande estiagem de 1993, considerada pelos meteorologistas e pesquisadores como a maior seca de todos os tempos na região nordestina.  Naquele ano em nossa região não havia pastagem nem água para os animais, e, caso Chiquinho Germano não tivesse vendido parte de seu rebanho, com certeza, teria perdido totalmente sua criação de gado, com as mortes de todas as cabeças, devido à fome e à sede dos animais.
            As primeiras propriedades rurais de Chiquinho Germano foram as seguintes: Pintada e Gecém, herdadas dos seus pais. Em 1960, como grande proprietário da região Oeste Potiguar, foi cliente do Banco do Brasil, agência de Mossoró (Centro), onde permanece até hoje, 2006, com quase 76 anos de idade.
            Veja a seguir a entrevista de Chiquinho concedida aos jornalistas Crispiniano Neto e Francisco Costa, do jornal Gazeta do 0este, edição do dia 29 de julho de 1998, publicada no suplemento GAZETA RURAL.
                        Eis o teor:
GAZETA RURAL - Cite a diferença entre praticar a atividade rural na década de 60 e agora em 1998.
CHIQUINHO GERMANO - A atividade rural na década de 60 recebia o apoio do Governo Federal, com grandes incentivos ao agricultor, época em que trabalhávamos com uma facilidade tremenda e por isso produzíamos em alta escala. É preciso que para isto eu recorde um pouco meu começo como agropecuarista, que foi gerenciando propriedades de minha avó, que devido a sua idade avançada solicitou-me o auxílio para gerenciar o seu considerável patrimônio. Enfrentei muitas dificuldades, como todo principiante, tanto que tive que me licenciar do meu emprego no Estado, na função de fiscal de tributos, fiscal de rendas. Cheguei mesmo assim a produzir 14 mil sacas de feijão, 03 mil sacos de milho, 180 mil quilos de algodão. O homem do campo vivia bem melhor na parte da rentabilidade de suas propriedades, em comparação à época atual. Hoje, como todos sabemos, as dificuldades são enormes. A continuar assim, ninguém quer mais ser proprietário neste país. Principalmente no Nordeste, onde tornou - se praticamente impossível nossa atividade, em virtude dos custos bastante altos. Naquele tempo, quando se falava em juros bancários, era de 3% ao ano, hoje para o médio e grande proprietários, é na faixa de 17% mais a TR.
Gazeta Rural - A propósito de incentivo do Governo Federal, via bancos, como é o caso, mais comentado do Banco do Nordeste, como o senhor avalia esta política agrícola?

Chiquinho Germano: Com relação ao Banco do Nordeste, eu não sei bem. O que eu escuto é muita reclamação. Por exemplo, para você tomar emprestado ao Banco do Nordeste, 50 mil reais, nas circunstâncias hoje do Programa Emergencial da Seca, é preciso que tenha tido uma renda bruta no ano passado de pelo menos R$ 500 mil. Eu acredito que um produtor rural que teve esse faturamento no ano anterior não vai precisar de R$ 50 mil. Isto está mais que claro que o Banco do Nordeste não está disposto a ajudar os proprietários rurais considerados na faixa de médios e grandes proprietários. Depois vem uma exigência de comprovação de renda, que varia entre R$ 35 a 85 mil. Até aí eu acredito que é fácil comprovar no caso de médio e do grande, que têm até certo ponto, está rentabilidade. Mas no município de Severiano Melo, por exemplo, eu desafio a mostrar qual o proprietário que conseguiu comprovar uma renda de R$ 35 mil, da mesma forma tenha conseguido retirar um só centavo pelo Programa Emergencial. Que eu sabia o proprietário rural inscrito até agora só teve promessa, pelo Banco do Nordeste. Pode ser que amanhã ou depois ele venha conseguir a liberação de recursos, mas até a presente data não é do nosso conhecimento.

Gazeta Rural - Então o ideal seria a volta do homem ao campo, recebendo, claro, os incentivos do Governo Federal, e assim o Brasil possa ser um País basicamente agrícola?

Chiquinho Germano: 0lha, para o Brasil começar a crescer pela agricultura, o governo tem que mudar muito. Em 1960, eu tinha 180 moradores; em 1998, eu tenho 25. Porque o homem do campo passou a ser desprotegido. O homem do campo que está morando na cidade, hoje tem direito a uma cesta básica, tem direito a leite, tem direito a uma casa, tudo dado pelo governo. O homem que permanece no campo continua sem energia, sem nenhuma assistência, pelo menos na nossa região, na região onde tenho propriedades.  Tudo tem ficado na cidade.  Vou citar mais um exemplo do município de Severiano Melo. Na propriedade onde residem pessoas que são moradores, amigos e familiares, nenhum deles estão alistados no programa Frentes Produtivas do Governo do Estado. A EMATER, a Prefeitura, a Comissão do Programa, talvez não tenham tido tempo de chegar até lá para fazer o cadastramento deste pessoal. O que acontecerá? Futuramente, talvez estas pessoas terão que deixar o sítio, porque não vão se marginalizar nas grandes cidades. Afinal, este é o incentivo que vemos os governos darem para o homem trabalhador rural. Sair do campo para se tornar bandido na cidade.

Gazeta Rural - Como prefeito do município de Rodolfo Fernandes, por três vezes (na época dessa entrevista, hoje, pela 5ª vez), o que Chiquinho Germano fez pelo homem do campo?

Chiquinho Germano: Olhe, como assistência ao homem do campo, sempre procurei dar a prioridade nos setores de saúde e educação o outro setor a que você talvez esteja se referindo, que são as condições de infra-estrutura, apenas em 1993 priorizei a perfuração de vários poços, através da CDM, no Governo José Agripino que nos trouxe muitos benefícios para o setor. Mas nenhum prefeito sem ajuda do Governo Federal pode fazer muito pela agricultura do seu município. Pois os recursos são poucos e as prioridades do setor são muitas. Tem que nser a partir da educação, como já falei.

Gazeta Rural - Em sua opinião, atualmente, qual o setor que o Governo Federal está beneficiando, se é que está?

Chiquinho Germano: O setor da indústria está muito beneficiado, eu diria com exclusividade, em comparação ao setor da economia rural.  Vejo isto com muita tristeza e continuando este desprezo do Governo Federal para com o campo, até os assentamentos serão esvaziados.  Porque não existe, pelo menos no Nordeste, nenhuma ajuda. Repito, nenhum incentivo para o trabalhador rural.  Vou citar um exemplo da falta de respeito e de prioridade do Governo Federal para o setor agrícola.  Enquanto ele gasta mais de bilhão na reconstrução do Aeroporto do Galeão, para o Nordeste minimizar os efeitos da seca até agora só destinou recursos da ordem de R$ 450 milhões, via Banco do Nordeste. Por aí temos um parâmetro de quanto o homem do campo não tem valor para o Governo Federal.

Gazeta Rural - Como o senhor analisa os recentes movimentos, como O GRITO DA SECA, em protesto contra toda esta situação em que vive o homem do campo, no qual contundentes cobranças foram feitas ao Governo Federal?

Chiquinho Germano - Enquanto não assumir a Presidência da República, um nordestino comprometido com suas origens, os grandes centros, as grandes regiões, serão sempre privilegiados em detrimento do nosso sofrido Nordeste.  Os governos que até agora têm administrado o Brasil, não deram o valor real e merecedor que a região nordestina necessita, com suas potências, sua riqueza, seu patrimônio. Nossas bancadas são infinitamente menores e sem muito poder de barganha, o que de certa forma dificulta cada vez a situação de fragilidade do Nordeste.

Gazeta Rural - Como o senhor avalia o processo de reforma agrária no Brasil, em resumo?

Chiquinho Germano - A invasão da propriedade eu acho totalmente errada. Você, depois de vários anos de luta consegue um patrimônio para depois um estranho invadir. Nestes dias colocam o cidadão para fora de sua residência, invadem sua propriedade, porque estão sem teto, da mesma forma poderá acontecer com o seu automóvel, tomado por alguém que não tem automóvel.  Isto tudo, porém, é falta de governo, de poder, de uma política séria para o setor rural. O cidadão rural tem também seu espírito de revolta por não ter apoio.  Eu acho que o processo de reforma agrária neste país poderá se transformar numa espécie de guerrilha.

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