RELÓGIO

sábado, 8 de setembro de 2012

Entrevista ao Jornal Gazeta do Oeste

Entrevista ao Jornal Gazeta do Oeste

            No dia 31/05/2003, Chiquinho Germano concedeu uma entrevista à jornalista Lúcia Rocha, publicada na edição do dia 01/06/2003 (domingo), do Jornal Gazeta do Oeste, no Caderno Mossoró, o qual falou sobre sua belíssima trajetória de vida e de sua indignação com tanto desvio de verbas públicas. Veja na íntegra.

Um Coronel do Bem

            Em época de auditorias fiscais, o prefeito de Rodolfo Fernandes está indignado com tanto desvio de verbas públicas.

            Lúcia Rocha
            Especial para GAZETA

            O Rio Grande do Norte assiste a uma onda de devassa por parte do Governo Federal. Guamaré e Baraúna são cidades que hospedam auditores federais em suas sedes. O que dirá sobre esse fato novo na política do RN, O último dos coronéis, Chiquinho Germano?
            Prefeito da cidade de Rodolfo Fernandes é um homem benquisto até pelos adversários. Sendo ele uma pessoa honesta, que honra seus compromissos com o eleitorado, Chiquinho Germano apenas diz: “não sei como é que os políticos desviam verbas. A fiscalização é rigorosíssima, a ponto de atrasar a entrega de documentação”, disse surpreso. ‘Muitas vezes estamos precisando da verba para não parar as obras sociais e passamos um tempão só cuidando de documentos, pois tudo é muito difícil. Há um rigor danado e é assim que deve ser quando se trata de dinheiro público’, completa.
            A indignação parte de um homem simples, que atingiu na última eleição, 92% de votação. Em 1998, elegeu-se então o primeiro vereador da oposição em toda história da cidade.
            Pode-se dizer que Chiquinho Germano não pratica o nepotismo, tão comum a políticos. A exceção foi feita em 1998, com o sobrinho Silveira Neto, eleito prefeito naquele ano. Sua competência serviu de passaporte para ocupar o cargo de secretário de Agricultura.
            O menino que nasceu Francisco Germano  Filho, carinhosamente chamado de Chiquinho Germano, ou seu Chiquinho, é filho de Francisco Germano da Silveira e Jacinta Queiroz da Silveira. Nasceu em Luís Gomes, Alto 0este, em 16 de abril de 1930. Há setenta e três anos, portanto.
            Aos nove meses foi para a companhia dos tios, o juiz de Direito, Dr. José Fernandes Vieira e Amélia de Queiroz, na cidade de Pau dos Ferros, tendo ali se alfabetizado.
            Aos dez anos de idade, o pai adotivo assumiu a Comarca de Mossoró, tendo aqui concluído o curso ginasial, no Colégio Diocesano Santa Luzia. Ingressou na política estudantil, participando da fundação do Centro Estudantal Mossoroense. Organizou movimentos, campanhas estudantis e ingressou no mercado de trabalho. Iniciou o curso de Técnico em Contabilidade, na Escola Técnica do Comércio União Caixeiral, não chegando a concluir.
            Seu primeiro emprego foi na Mossoró Comercial & Navegação, ao lado de pessoas de inteira confiança do então industrial Dix-sept Rosado.
            Aos 20 anos de idade estreou no palanque, na campanha de Dix-sept Rosado para governador do Estado. O gosto pela política foi herdado do pai, porém um tio, Antonio Germano, foi senador e deputado estadual.
            O destino reservava - lhe a política mais para frente.
            Luís Gomes, Pau dos Ferros e Mossoró foram cidades que o acolheram, mas Sêo Chiquinho não estava satisfeito. Queria ir mais longe. O próximo destino seria Natal e Rio de Janeiro. Depois Aracaju e Recife. Fixou residência em Natal, onde atuou no Ministério da Saúde.
            Atendendo convite do governador Dinarte Mariz, foi nomeado fiscal de rendas. Em 1961, viu-se atingido por perseguições políticas. Resolveu pedir licença, sem remuneração e, de volta para o interior, assumiu a administração das fazendas da família, aos 30 anos.
            Na Vila de São José, que havia sido desmembrada da cidade de Portalegre, Chiquinho com seu jeitinho manso, um homem polido, educado, foi acumulando amigos e correligionários. A vila se emancipou. Nascia a cidade de Rodolfo Fernandes. Era 1963 e agora precisava de um prefeito.
            Ponto! Chiquinho, um jovem benquisto, com habilidade em lidar com gente de todas as camadas sociais, mostrou ser um líder nato, do tipo que sabe onde está pisando. Foi lembrado pela população. Surpreso, aceitou o desafio. Indo à luta, venceu. Tinha 33 anos de idade.
            Lá se vão quarenta anos e o homem está aí. Tratando todos por igual. Voz baixa. Às vezes inaudível. De vez em quando arrasta a sandália, do tipo franciscana, num forrozinho. Principalmente nas vaquejadas. Faz par com todo mundo. Uma sobrinha, a filha de um amigo ou com alguma eleitora. Gente afoita também. “Tendo forró e eu indo, danço com todo mundo”, anima-se.
            Continua, não apenas o líder maior do município, mas um coronel. Um coronel sem chicote. O último dos coronéis, talvez.
            Dessa estirpe, com certeza, o único em vida. Espécie rara.
            Um dia o Diário de Natal registrou com manchete; “O prefeito que jamais conheceu a derrota”. O homem conquistou a mídia.
            É verdade, Chiquinho só conhece vitórias em sua vida. Um prefeito que nunca precisou ir à capital federal pedir nada. ‘Nunca pus os pés em Brasília. 0s deputados pegam os projetos e têm a obrigação de trazer os benefícios para os municípios. Para isso, é que existem deputados e senadores”, desabafa.
            Ele prefere ficar lá, em Rodolfo Fernandes, ocupado com outras tarefas. Não se afasta do povo. Nem mesmo no final de semana, quando recebe todos em casa, de portas escancaradas. Cada um chega, vai à cozinha e serve o seu cafezinho.
            Casado há 34 anos com Simone Queiroz Negreiros Germano, professora aposentada, grande companheira da luta. Também prima. Trabalha nos bastidores. Formada em Letras, só trata o marido de ‘Seu Chico’. O casal tem dois filhos, o advogado José Negreiros Neto, que atua em Natal e zona salineira; e o empresário Cristiano de Queiroz Negreiros Germano, que atua no ramo de material de construção, em Mossoró.
            Quando vai a Rodolfo Fernandes, Simone se hospeda na Fazenda São Gabriel, embora o casal mantenha uma casa no Centro. Como primeira dama sente o peso da responsabilidade. “Interesso-me bastante pelo progresso da cidade”, comenta sem modéstia e já fazendo questão de dizer que seu modelo de primeira dama é o de dona Adalgisa, viúva do governador Dix-sept Rosado, “Uma pessoa desprovida de qualquer vaidade e egocentristrismo”, disse se autodenominando também.
            Durante muitos anos Chiquinho seguiu o líder político, Vingt Rosado, já falecido. “Um dia lhe disse que nunca mais votaria nele. Ele pensou que era brincadeira”, recorda. Há anos segue o grupo político do senador José Agripino.
            Chiquinho Germano é um homem bastante respeitado e prestigiado pelos políticos. Até mesmo os adversários. Uma prova desse prestígio são os cartões enviados para a esposa, Simone. Não esquecem nem o seu adversário. “O primeiro sempre vem da parte de Geraldo Melo, seguido pelo de Henrique Alves”, registra. Só então vem dos aliados do PFL, como Ney Lopes, José Agripino e Anitinha, por exemplo.
            O ex-deputado Laíre Rosado, do PMDB, lembra que logo que retornou a Mossoró e começou a trabalhar como médico precisou fazer um empréstimo no Banco do Brasil, encontrando obstáculo. Comentou numa roda de amigo. Foi surpreendido por um dos presentes. “Na mesma hora Chiquinho se prontificou e o empréstimo foi possível. Eu não o conhecia, mas ele sabia de mim”, conta Laíre.
            Tivesse permanecido na região Sudeste, Chiquinho Germano teria sido um empresário bem-sucedido, a exemplo de seus irmãos, empresários do ramo de alumino, José Wellington Germano, donos da Bel Metal, radicados no Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente. Em Belo Horizonte, Aldecir Germano. Em Mossoró, o também empresário Damião Queiroz, já falecido, dono da Queiroz & Filhos. Da prole tem as donas-de-casa Elita, em Mossoró, e Erci, em Natal. Além dos agropecuaristas, Antonio e João Germano, residentes em Mossoró e Rodolfo Fernandes, respectivamente.
            A família se reúne na festa de Rodolfo Fernandes. Aliás, é um compromisso que Chiquinho tem com a cidade. Todo ano leva o amigo Redondo, que se apresenta com a irmã Rita de Cássia e banda. “Enquanto a gente estiver vivo tem forró para todo mundo”, garante.
            Também durante as festas juninas os munícipes – são pouco mais de quatro mil habitantes – homenageiam o prefeito na Praça do Povo com um bolo gigante, onde cada metro corresponde a um ano de Chiquinho na vida pública. O bolo deste ano terá 40 metros e estará à disposição da população para degustação da população no corredor junino, organizado pelos familiares e eleitores.
            O mesmo compromisso tem com a saúde e educação. Com o bem-estar dos idosos, a dentição e a taxa de diabetes da população, colocando médicos e dentistas a serviço dos moradores. Emociona-se ao citar o projeto que implantou para a terceira idade, disponibilizando médicos, distribuição de sopas e também lazer.” “Tem forró toda quarta-feira num salão para idosos. Uma banda local anima e é servido lanche. Nos demais dias, tem caminhada”, detalha.
            A cidade dispõe de médicos da família e de agentes de saúde. Dois dentistas prestam serviço completo, até mesmo com confecção gratuita de dentadura durante todo o ano. As crianças dispõem de uma pediatria.
            Chiquinho Germano é o único que conseguiu se eleger quatro vezes prefeito de uma cidade no Rio Grande do Norte.
            Qual a fórmula de sucesso desse coronel? - Isso não tem receita, não! - enfatiza. Com insistência solta algumas dicas; “Em primeiro lugar, acho importante o sábado e o domingo. O homem do campo não tem o que fazer e vem na cidade. E 90% dos prefeitos somem nos finais de semana”, explica. Ele conta que na ausência do prefeito tem na ausência do prefeito tem que haver alguém com capacidade para resolver os problemas, principalmente na área de saúde. “É a parte mais vulnerável da política. Se você cuida da saúde e da educação, as outras coisas dão certo”, argumenta.
            Outra receita de sucesso é um livro, onde anota o nome de cada um de seus eleitores, com endereço e até apelidos. “Converso pessoalmente, pelo menos, com dois mil eleitores e coloco uma cruzinha ao lado de quem vota”, conta lembrando que na próxima eleição começa tudo de novo. “Cada caso é um caso”. Toda eleição é diferente. Os problemas são diferentes. Por isso dizem que a política é dinâmica’, analisa.
            Sêo Chiquinho sabe, através de pesquisas pessoais, que tem maioria entre os adolescentes e idosos.
            Questionado sobre quando vai deixar a política, ironiza; “Ninguém deixa a política, minha filha! A política é quem deixa a pessoa. O povo bota para fora”, brinca ele que não gosta do rótulo de coronel. “Não tenho entusiasmo como coronel”. Não me sinto coronel, desconversa.

Quem é Lúcia Rocha

            Lúcia de Fátima Cabral Rocha, natural de Mossoró - RN, nascida a 26/10/1959, filha de Pielson Dantas Rocha (São João do Rio do Peixe - PB, 08/04/1921 – Mossoró, 23/07/1992). Filho de Manoel Dantas Ferreira Rocha e Isaura Ireneo Pinheiro Dantas; e de Inalda Cabral Rocha (Pau dos Ferros - RN, 25/01/1925), fillha de Pedro Alves Cabral e Antonia Néri Cabral. Jornalista, escritora, cientista social, incansável observadora da vida e das pessoas profissionais que avançam o país.
            Em Mossoró, trabalhou como repórter de jornal o Mossoroense, Gazeta do 0este e TV Cabo Mossoró (TCM) e na capital no jornal Dois Pontos, TV Cabugi e TV Ponta Negra. Produziu, dirigiu e assessorou jornais e programas de entretenimento no SBT e na TV Record, além de bandas de músicas, empresários, parlamentares, palestrantes e políticos, dentre os quais podemos citar o fenômeno de vendas, o escritor e médico Dr. Lair Ribeiro.
            Como escritora já lançou mais de dez livros em São Paulo e em setembro de 2004 recebeu, sob Decreto Legislativo nº 814/04 da Câmara Municipal de Mossoró, medalha Mérito Jornalístico Lauro da Escóssia.
            Em 03/06/2005 fez o lançamento do seu livro ‘Catadora de Sonhos’ – A História Secreta da maranhense Maria Eulina Reis da Silva. Atualmente, em Mossoró, Lúcia Rocha mantém a Oficina de Jornalismo Raibrito, dirigida a estudantes profissionais da área de comunicação, na sede da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).

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